A sede do AfroReggae foi reaberta na manhã desta quarta-feira na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, ainda sob clima de muita tensão. A ONG retomou as atividades 15 após um incêndio que destruiu parte de sua pousada na comunidade. Mas poucas horas antes da cerimônia, a hospedagem foi novamente alvo de pelo menos nove tiros de fuzil.
“Tentaram nos intimidar para que a gente não reabrisse hoje. Mas seria um retrocesso. Se eu disser que não estamos com medo, vou estar mentindo. Só que o processo de pacificação não pode voltar atrás. E o AfroReggae não pode compactuar com isso”, disse o coordenador da ONG, José Junior.
O governador Sérgio Cabral estava tenso durante a cerimônia. E pediu a compreensão dos moradores da comunidade e de toda a população: “A UPP não é perfeita. Se o Amarildo sumiu, vamos atrás do Amarildo. Se o AfroReggae fechou, vamos reabrir. A quem interessa desmoralizar um projeto que não é do meu governo, mas da sociedade? A gente tem que lutar para melhorar o projeto, e não para desmoralizá-lo”.
De acordo com os moradores vizinhos à sede do AfroReggae, os tiros desta madrugada teriam sido disparados por traficantes ligados ao pastor Marcos Pereira, preso acusado de estupro e ligação com o tráfico, após ter sido denunciado por José Junior.
“A matemática é simples: grana. Duas ONGs faturavam na favela. A do Júnior e a do Pastor. Se um caiu por causa do outro, a represália não tardaria”, contou um morador.
"Nós não vamos sair daqui. Isso foi uma demonstração de fraqueza e não de força. Eles (os traficantes) queriam intimidar para não abrir hoje. Nós temos o apoio do governador e do prefeito Eduardo Paes", disse José Junior.
Repasse de R$ 3,5 milhões
A prefeitura divulgou nesta quarta no Diário Oficial, repasse de R$ 3,5 milhões ao AfroReggae. A despesa foi despachada pelo secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão. Até a noite de ontem, a Secretaria de Cultura não detalhou o destino da verba. No Diário Oficial, consta que o apoio financeiro é para fins educativos, culturais e sociais.
Wagner Moraes da Silva, 20 anos, acusado de ter incendiado a pousada do AfroReggae, morreu ontem no Hospital Pedro II, onde estava internado sob custódia, após ter 30% do corpo queimado. Ele havia dito à polícia que tentou apagar o incêndio, e era investigado por suposta ligação com o tráfico.
'Movimento é contra líder do AfroReggae', diz Beltrame
O secretário José Mariano Beltrame acredita que os ataques de facções criminosas não sejam contra as UPPs instaladas no Complexo, mas contra o coordenador do AfroReggae. "Nós não podemos esquecer do que tínhamos aqui. A ação do tráfico aqui. A polícia daqui não sai, só aumenta. O movimento é mais contra ele, contra a sua história, mais do que contra a UPP", explicou. (O Dia/redação)
Nenhum comentário:
Postar um comentário