Enquanto a passagem aumenta, cresce também o desconforto com o serviço oferecido pela SuperVia e Metrô Rio. Nesta segunda-feira (17), fumaça em uma composição em São Cristóvão desesperou os usuários do transporte, entre eles crianças. Na ocasião, passageiros tiveram que forçar a abertura de portas para escapar do desconforto. Composições também enfrentam constantes problemas com seus intervalos. Nos trens, a situação tem se mostrado ainda pior, com seguidos descarrilamentos que deixam feridos e atrapalham a rotina do trabalhador.
"O reajuste é uma medida que mostra o descompromisso do governo do Estado com a população fluminense. Mostra que ele é um governo dos grandes lobbies empresariais, que se apropriaram dele, com quem têm vínculos profundos, pois financiam parte das campanhas eleitorais. Isso mostra o por quê desse governo ser tão rejeitado pela população", alerta Carlos Eduardo Martins, professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.
Usuários do bilhete único pagam a antiga tarifa, mas com um limite de duas passagens por dia. Diz a nova lei, Nº 6700, de 6 de março de 2014: "Os usuários, portadores do cartão de Bilhete Único, terão o direito de realizar duas viagens diárias nos transportes ferroviários e metroviários, na categoria social, pagando as tarifas ferroviárias e metroviárias, sociais temporárias, observada a temporalidade prevista na Lei 5.628, de 29 de dezembro de 2009."
Entre a população do Grande Rio, no final de fevereiro deste ano, o Bilhete Único tinha 2,4 milhões de usuários. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, a Região Metropolitana do Estado abriga 11,8 milhões de pessoas. Aproximadamente 20% da população do Grande Rio, então, faz uso da modalidade tarifária, o restante terá que arcar com os novos valores. Baía reforça que, como a expectativa inflacionária é maior, o dinheiro das pessoas está valendo menos, o que, em termos macroeconômicos, contribui para o aumento da inflação.
Conforme explica Luís Eduardo Serra Netto, especialista em Direito Público Econômico, do escritório Duarte Garcia, Caselli Guimarães e Terra Advogados, o reajuste das tarifas acaba se tornando útil na hora que o Estado precisa cobrar um bom atendimento da concessionária. Se a tarifa fica abaixo do que se alega como necessário, a empresa pode continuar prestando um serviço ruim e afirmar na Justiça que a tarifa estabelecida não a permite melhorar, fugindo de eventuais multas.
"A qualidade da prestação do serviço público não está relacionada com a tarifa. A tarifa, em condições normais, deve garantir a execução do serviço adequadamente. A forma de controle da qualidade do serviço que está sendo prestado só pode ser feita por multa, que tem mais um caráter pedagógico. Você reter o reajuste da tarifa não pode servir como forma de punição do prestador de serviço. O usuário fala que não quer pagar mais, só que o serviço deverá ficar cada dia pior se você não remunera da maneira adequada", comentou Serra Netto.
O reajuste, como destaca Paulo Baía, acaba afetando mais as classes baixas do que a alta, que não percebe o efeito de mudanças como esta. Ele lembra que quando Sérgio Cabral negou o reajuste, em janeiro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciava o aumento das tarifas municipais. Cabral teria tomado a decisão, acredita, para entrar em sintonia com a reivindicação das ruas, levando em conta ainda os acidentes com os trens da SuperVia.
"Mais uma vez, a hierarquia da cidade beneficia a classe média e alta e penaliza a classe média baixa e os pobres. Eu sou da classe média alta, não passo por problemas. Mas quem vem da Pavuna está tendo problemas, quem tem que fazer integração está tendo problemas. Se instalou um clima de imobilidade urbana, que afeta a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. As pessoas estão passando mais tempo no engarrafamento, mesmo fazendo opção pelo transporte coletivo, porque é um transporte coletivo de má qualidade", disse.
Baía destaca que o governo até reconhece a má qualidade do transporte público, mas justifica que as concessionárias precisam de longo prazo e de verba para realizar melhorias. Porém, lembra, como as pessoas não vivem no longo prazo mas, sim, no "aqui e agora", a situação só tende a piorar. (JB/Redação)
Um comentário:
Se aumentar as passagens, consequentemente, os investimentos crescem, isso não é bom?
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