Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (3) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que o Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, se tornou uma cidade de pequeno porte, no entanto, sem acesso suficiente a serviços como educação, cultura e saúde, se comparado com uma cidade com a mesma densidade.
"Aquilo se transformou numa cidade. Se comparado com uma cidade desse tamanho, no entanto, seria uma cidade carente. Tem problema de saneamento básico, ausência de ruas. Apesar dos serviços chegarem, a densidade de moradores é muito mais alta e criou vários problemas. Aquela área ficou muito densa, todas as encostas foram ocupadas, em boa parte das áreas desapareceram os caminhos e foi anexada toda uma área depois dos anos 70 e 80", afirmou a pesquisadora do Ipea Rute Imanishi Rodrigues.
De acordo com a autora da pesquisa "A gramática da moradia no Complexo do Alemão: história, documentos e narrativa", que divide a autoria da análise com a também pesquisadora do Ipea Patrícia Brandão Couto, a principal descoberta é a complexidade das formas de acesso à moradia e os diversos intermediários que aparecem na negociação das terras. Ela aponta para diferentes formas de fixação que ultrapassam "compra, aluguel e invasão", como recursos para acesso à moradia.
"Há diversos intermediários que aparecem e podem ser grileiros ou não. As pessoas podem se apropriar dos espaços e é difícil identificar quem está negociando a terra. Qual é a origem dessas pessoas que passam a negociar essa terra lá dentro? É um processo complicado e está na essência da reprodução dos problemas da favela, essa ocupação desordenada visando o lucro. Existe um mercado informal, há vários tipos", completou Rute.
A análise aponta ainda que a origem das favelas que compõem o Conjunto de Favelas do Alemão não é decorrente de "invasões de terrenos". O estudo identifica que as invasões, que de fato ocorreram, são decorrentes de outros processos que as antecederam.
"A principal invasão coletiva que a gente identificou foi num terreno do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários, depois houve uma fusão que virou INPS, mas eles financiavam conjuntos habitacionais até meados dos anos 60 e contribuíram para as campanhas de favelas. Em muitos casos, foram obrigados a ceder terrenos para essas campanhas. Antes do terreno ser invadido, ele já era ocupado por concessão de um órgão que era estatal, o IAPC", afirmou.
Ainda de acordo com a pesquisa, a maioria dos moradores entrevistados, que estão na região há muitas décadas, não se reconhece como "invasores" porque alega que chegou ao Alemão para morar em casa de parentes ou amigos, ou alugou uma casa para posteriormente comprar um lote e construir suas moradias.
Novos moradores que chegam ao Conjunto de Favelas do Alemão conseguem comprar ou alugar imóvel através do mercado imobiliário local, com a participação das associações de moradores como mediadoras, nos atos de compra e venda. Ainda de acordo com a pesquisa, no entanto, no período recente, ocorreram invasões de antigos galpões industriais abandonados. (G1/Redação)
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