domingo, 20 de maio de 2007

Lula se diz ‘preocupado’ com alcance da operação


Municiado de informações pelo ministro Tarso Genro (Justiça), Lula se diz “preocupado” com os desdobramentos da Operação Navalha. Receia que o novo escândalo volte a conferir ao Congresso ares de “delegacia de polícia”, envenenando uma pauta de votações que ainda inclui medidas privisórias do seu PAC.

Lula soube na noite de quarta-feira que a Polícia Federal passaria na navalha um mega-esquema de desvios de verbas públicas. Foi avisado por Tarso Genro. O ministro contou-lhe o que ouvira de Paulo Lacerda, diretor-geral da PF. Falou sobre as prisões que ocorreriam na manhã seguinte, discorreu sobre as linhas gerais da investigação.

O ministro e o presidente conversaram, segundo apurou o blog, acerca do potencial de combustão do novo escândalo. Tarso mencionou que as apurações envolviam, até aquela altura, um governador, um ex-governador, prefeitos... Falou do matiz suprapartidário da encrenca. Disse que a navalha feriria também a chamada “base governista”.

Depois de ouvir Tarso, o presidente trocou idéias com pelo menos um outro auxiliar. Pronunciou na conversa uma variante da frase cunhada pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). “Não vamos perseguir ninguém, mas também não podemos proteger”. Disse que não faria nada que pudesse ser interpretado como uma interferência no trabalho da PF.

A inquietude de Lula não é despropositada. O dono da Construtora Gautana, Zuleido Soares Veras, fez-se nas franjas do Orçamento da União. Suas relações políticas vão do chamado baixo clero aos cardeais do Congresso.

Para complicar, no início da noite desta sexta-feira (18), a PF começou a apalpar dados que têm potencial para acomodar o novo escândalo bem no centro do Legislativo. Munidos de autorizações judiciais, agentes da PF fizeram, além das prisões, 84 operações de busca e apreensão.

Recolheram-se nos escritórios da Gautama, a empresa do sociável Zuleido, os dados até aqui considerados mais valiosos para o desdobramento das apurações. A PF acha que pôs a mão em planilhas que têm a cara de um caixa dois. Associa nomes de políticos, inclusive congressistas, a cifras e presentes. Relaciona obras a emendas ao orçamento, feitas no Congresso.

Até aqui, as apurações da PF haviam apenas tangenciado o Congresso. Entre as pessoas detidas na quinta-feira estão Francisco de Paula Lima Jr. e Ernani Soares Gomes Filhos. O primeiro é sobrinho do governador Jackson Lago, do Maranhão. Está lotado no gabinete do deputado Julião Amin (PDT-MA), do grupo político de Lago.

O segundo, funcionário do Ministério do Planejamento, vinha prestando serviços, por requisição, ao gabinete do deputado Márcio Reinaldo (PP-MG). É reconhecido como um especialista em matérias orçamentárias.

Por enquanto, os responsáveis pela investigação fazem segredo dos nomes que aparecem no papelório da Gautama, já enviado à análise do setor de inteligência da PF. Mas segredos como esse não costumam durar muito em Brasília. Lula, a propósito, não há de estar preocupado à toa.

Blog do Josias

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