
Municiado de informações pelo ministro Tarso Genro (Justiça), Lula se diz “preocupado” com os desdobramentos da Operação Navalha. Receia que o novo escândalo volte a conferir ao Congresso ares de “delegacia de polícia”, envenenando uma pauta de votações que ainda inclui medidas privisórias do seu PAC.
Lula soube na noite de quarta-feira que a Polícia Federal passaria na navalha um mega-esquema de desvios de verbas públicas. Foi avisado por Tarso Genro. O ministro contou-lhe o que ouvira de Paulo Lacerda, diretor-geral da PF. Falou sobre as prisões que ocorreriam na manhã seguinte, discorreu sobre as linhas gerais da investigação.
O ministro e o presidente conversaram, segundo apurou o blog, acerca do potencial de combustão do novo escândalo. Tarso mencionou que as apurações envolviam, até aquela altura, um governador, um ex-governador, prefeitos... Falou do matiz suprapartidário da encrenca. Disse que a navalha feriria também a chamada “base governista”.
Depois de ouvir Tarso, o presidente trocou idéias com pelo menos um outro auxiliar. Pronunciou na conversa uma variante da frase cunhada pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). “Não vamos perseguir ninguém, mas também não podemos proteger”. Disse que não faria nada que pudesse ser interpretado como uma interferência no trabalho da PF.
A inquietude de Lula não é despropositada. O dono da Construtora Gautana, Zuleido Soares Veras, fez-se nas franjas do Orçamento da União. Suas relações políticas vão do chamado baixo clero aos cardeais do Congresso.
Para complicar, no início da noite desta sexta-feira (18), a PF começou a apalpar dados que têm potencial para acomodar o novo escândalo bem no centro do Legislativo. Munidos de autorizações judiciais, agentes da PF fizeram, além das prisões, 84 operações de busca e apreensão.
Recolheram-se nos escritórios da Gautama, a empresa do sociável Zuleido, os dados até aqui considerados mais valiosos para o desdobramento das apurações. A PF acha que pôs a mão em planilhas que têm a cara de um caixa dois. Associa nomes de políticos, inclusive congressistas, a cifras e presentes. Relaciona obras a emendas ao orçamento, feitas no Congresso.
Até aqui, as apurações da PF haviam apenas tangenciado o Congresso. Entre as pessoas detidas na quinta-feira estão Francisco de Paula Lima Jr. e Ernani Soares Gomes Filhos. O primeiro é sobrinho do governador Jackson Lago, do Maranhão. Está lotado no gabinete do deputado Julião Amin (PDT-MA), do grupo político de Lago.
O segundo, funcionário do Ministério do Planejamento, vinha prestando serviços, por requisição, ao gabinete do deputado Márcio Reinaldo (PP-MG). É reconhecido como um especialista em matérias orçamentárias.
Por enquanto, os responsáveis pela investigação fazem segredo dos nomes que aparecem no papelório da Gautama, já enviado à análise do setor de inteligência da PF. Mas segredos como esse não costumam durar muito em Brasília. Lula, a propósito, não há de estar preocupado à toa.
Blog do Josias
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