O Ministério Público Estadual (MP) pedirá à Justiça a interdição das instalações para as categorias de base do Vasco da Gama, em São Januário. E também que os 42 jovens atletas sejam entregues aos pais.
O clube ignorou liminar expedida pela Justiça, em abril, que exigia a melhoria do local, onde só há dois sanitários, e fiação exposta nos corredores. O salário chega a atrasar dois meses.
Segundo a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, o Vasco não cumpriu as melhorias enumeradas na ordem judicial. Relatório do Juizado da Infância, Juventude e Idoso, feito após vistoria em junho, indica que para os 42 adolescentes há apenas dois sanitários e três chuveiros no alojamento.
Na escola que funciona no clube, os candidatos a craques da bola enfrentam “sensação térmica de 40 graus” dentro da sala de aula. Os aparelhos de ar condicionado estão quebrados e “somente algumas estão equipadas com ventiladores que funcionam”.
“O MP está perplexo diante da inércia do clube. Passaram-se mais de 90 dias e o Vasco da Gama não cumpriu as determinações da Justiça. As obras de adequação não foram realizadas. Alguns banheiros continuam interditados. As condições da sala de aula são muito precárias”, afirmou a promotora da Infância e da Juventude Clisânger Ferreira Gonçalves Luzes.
Além do calor, constatado no outono, os adolescentes são obrigados a usar cadeiras sem braços ou encosto. Segundo relato dos professores, que não têm mesa na sala de aula, eles não recebem material didático: “As apostilas fornecidas pelo clube foram cortadas”.
A alimentação inadequada é outro problema: os alunos passam a tarde sem lanchar. “O café da manhã é precário para um atleta. De manhã e à noite, recebem pão e achocolatado. Não têm uma fruta”, destaca Clisânger.
Segundo relato de atleta a comissário da infância, a ajuda de custo que o clube fornece aos alojados está atrasada: “O mês de fevereiro foi pago em maio”.

Pais de adolescentes poderão pagar multa de R$ 12 mil por negligência
Pais dos adolescentes alojados em São Januário terão que explicar na Justiça por que deixam os filhos em local precário. Se confirmada a negligência, segundo a promotora, podem ser condenados a pagar até R$ 12.440 de multa.
“O pai permite que o filho fique no clube porque é um sonho. Mas essa expectativa pode ter um preço muito alto. O pai é responsável pela guarda e tem o dever de proteger essa criança, se ela está em condição precária, privada da convivência familiar e o pai permite isso, ele é responsável”, afirma a promotora.
Os jovens viviam em alojamento insalubre e eram transportados em ônibus sem cinto de segurança e com 50 multas por excesso de velocidade. De lá para cá, o ônibus deixou de ser usado e foi montado um refeitório adequado. O Vasco da Gama afirmou que não comentaria os problemas apontados pelo MP.
(Jornal O Dia  07/08/2012)