quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Senado debocha do Povo


Absolvição provoca indignação de senadores e entidades. Poucos defensores se manifestaram

BRASÍLIA - Apesar de terem sido mais numerosos, os defensores de Renan Calheiros evitaram fazer pronunciamentos após a absolvição do presidente do Senado. Poucos revelaram o voto em público. Não faltaram, porém, manifestações de parlamentares contra o resultado.

O senador Almeida Lima (PMDB-SE) não escondeu a satisfação. “Isso deixou claro para alguns segmentos da sociedade que não podem simplesmente pressionar o Senado e achar

Sem medo de ficar ao lado de Renan, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) festejou. “Ele não poderia jamais largar e sair como culpado, ele foi inocentado”, declarou o parlamentar, referindo-se ao fato de o presidente da Casa não ter renunciado para evitar o processo.

Outro que comemorou a absolvição diante dos holofotes foi o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). “Os senadores tiveram elementos, perícias, prospecções. Todos os instrumentos para decidir. Foi de maneira democrática e esse assunto agora é página virada”, sentenciou.

Já os inconformados com a decisão do plenário temem que o resultado piore a imagem do Senado e atrapalhe os trabalhos. “O Senado é uma referência negativa para a opinião pública e lida de forma fria e calculista com a opinião pública”, afirmou Renato Casagrande (PSB-ES), relator do processo junto com Marisa Serrano (PSDB-MS). Ela também protestou: “Depois de tanto tempo, com a análise séria dos documentos que foram periciados pela Polícia Federal, não tinha como o Senado apresentar esse placar”.


Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a opinião pública vai cobrar explicações. “Esse resultado foi um desastre. Foi o pior que poderia acontecer para a instituição. O Senado trocou a agonia de Renan Calheiros pela sua própria agonia e vai pagar por isso”, analisou.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), foi catastrófico. “O Senado acabou. Essa legislatura acabou. É de maneira triste que falo isso, mas é o fim”, disse.

Eduardo Suplicy (SP) foi um dos poucos petistas a garantir que votou pela cassação. “Eu avaliei que ele quebrou o decoro. Mas eu respeito a opinião dos meus colegas”, disse.

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, acredita que a absolvição levará o Senado a um desgaste. “Tenho esperança de que os eleitores se manifestem de maneira criativa, nas próximas eleições, eliminando da vida pública os candidatos que não merecem voto”, declarou. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, lamentou: “Que o corporativismo senatorial não insista em manter na presidência de uma das mais elevadas instituições republicanas alguém que se incompatibilizou com o cargo. Seria errar 2 vezes”, afirmou.

REPERCUSSÃO: REVOLTA DE FAMOSOS E ANÔNIMOS

A absolvição de Renan Calheiros pelo plenário do Senado foi recebida com decepção e revolta por artistas, personalidades do esporte e pela população em geral. O vocalista do grupo Detonautas, Tico Santa Cruz, disse que “a sociedade colhe os frutos da própria omissão”. O cantor e compositor Lobão também foi contundente: “Isso é uma blasfêmia, uma coisa terrível. O Senado brasileiro acabou de falecer”. O carnavalesco e colunista de O DIA Milton Cunha afirmou que a absolvição de Renan é “o esfacelamento da vergonha na cara e o fundo do poço do fundo do poço”. Para o cantor Wando, este episódio “vai repercutir muito mal fora do Brasil”. Já a empresária Luiza Brunet não se surpreendeu: “Já esperava por essa pouca vergonha”.

O técnico do Fluminense, Renato Gaúcho, disse que a absolvição de Renan foi uma vergonha: “Manchou de vez o Senado. Não estou julgando se ele é culpado ou inocente. O que enoja é o fato de tudo ter sido feito por debaixo dos panos”. O técnico e ex-craque Zico também criticou o Senado: “Lamento que, a cada dia, a classe política brasileira perca a oportunidade de ganhar credibilidade”. O capitão do tri, Carlos Alberto Torres, disse que os políticos “fazem o que bem entendem porque ninguém se manifesta”.

A contadora Rosângela Silva acha que o caso será esquecido até o próximo escândalo. Para a auxiliar de escritório Tatiane Serra, a decisão foi um absurdo, já que havia provas contra Renan.

OPINIÕES SOBRE A ‘PIZZARIA’

“A sociedade omissa colhe os frutos da própria omissão. Estão tripudiando sobre isso. É o nosso descaso com a política que gera nos políticos a certeza da impunidade. Pensam que a opinião pública não faz a menor diferença. Cabe a nós reagir”. Tico Santa Cruz, vocalista dos Detonautas

“Todas as provas contra o senador Renan Calheiros foram mostradas e, mesmo assim, ele foi absolvido. Não acompanhei o resultado da votação, mas acho um absurdo. Realmente precisamos rever as leis do País. Está tudo muito errado”. Tatiane Moraes Serra, auxiliar de escritório

“Eu realmente lamento muito que, a cada dia que passa, a cada ano que passa, a classe política brasileira perca a grande oportunidade de ganhar mais credibilidade junto ao povo brasileiro, junto aos seus eleitores. Isso não é bom”. Arthur Antunes Coimbra, o Zico, técnico de futebol na Turquia

A absolvição do Renan Calheiros foi uma vergonha. Manchou o Senado Federal. O que enoja é o fato de tudo ter sido feito por debaixo dos panos. Quem votou a favor da inocência dele tinha que ter colocado a cara na telinha. O voto secreto foi vergonhoso. Renato Gaúcho, técnico do Fluminense

Isso é uma blasfêmia, uma coisa terrível. O Senado acabou de falecer. Se a sessão tivesse sido aberta, teria sido menos indecente. Mas, se o Renan tivesse o mínimo de vergonha na cara, já tinha se afastado. Essa situação é intolerável. Estão fazendo os brasileiros de palhaços. Lobão, cantor

“Renan foi absolvido, o caso será esquecido e, daqui a pouco, vem outro escândalo. É vergonha em cima de vergonha. Os políticos estão todos comprometidos, vão lá ganhar dinheiro e dificilmente fazem algo com sinceridade”. Rosângela Silva dos Santos, 50 anos, contadora

Jornal o Dia Online


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