quinta-feira, 12 de março de 2009

Um gigante de costas para o mar


A sociedade brasileira está de costas para o mar. Fomos colonizados por Portugal, que tem uma sólida tradição marítima, mas nossa mentalidade continua continental, ao longo dos séculos.
A vocação natural do Brasil é negada, pois não temos uma governança costeira e as ações governamentais para o mar são fragmentadas.

As duas Guerras Mundiais do século passado mostraram ao Brasil sua vulnerabilidade, com o afundamento na última, por submarinos do Eixo, de pelo menos 35 navios brasileiros e a morte de mais de 1.400 brasileiros. A Marinha do Brasil perdeu três navios e 486 homens.
A dependência do Brasil em relação ao mar cresceu exponencialmente desde então, com a exploração do petróleo em alto mar e o imenso avanço no comércio marítimo de exportação.

No entanto, a cada ano vemos o declínio do Poder Naval brasileiro e a inércia dos governos democráticos para reverter a situação de precariedade da Marinha do Brasil.
O gigantismo nos lucros da Petrobras e os investimentos na área do Pré-Sal não redundaram em investimentos na Esquadra, que continua com seus royalties do Petróleo bloqueados pela União, desde o Governo FHC.

Os últimos anos de crescimento da economia brasileira também não foram suficientes para que o Governo se sensibilizasse e liberasse os royalties para aliviar a situação de penúria das forças navais brasileiras.
Desde o Comando da Marinha anterior que se aguarda uma decisão do Governo sobre a aprovação do Plano de Reaparelhamento de apenas R$ 6 bilhões, para ser empregado ao longo de 20 anos pela Força Naval.

Agora que se sabe que crise econômica e financeira mundial não é apenas uma “marolinha”, os planos de reequipamento da Marinha e a recém-divulgada Estratégia Nacional de Defesa estão no “paredão”.
O acordo sobre os submarinos assinado com a França está sob ameaça, pela dificuldade de se encontrar financiamento para o negócio, de R$ 8,5 bilhões.

Mas, como diz o adágio popular, “há males que vêm para bem”. A Estratégia Nacional de Defesa, primeiro documento do tipo no Brasil, priorizana aprte naval a negação do uso do mar, através dos submarinos, em detrimento do controle do mar.
Seria uma versão brasileira das estratégias da Marinha Alemã na Segunda Guerra e da Marinha Soviética, na Guerra Fria, que investiram pesadamente em submarinos, em detrimento de navios-aeródromo e escoltas.

Adotar essa estratégia naval significa abrir mão do controle do mar no Atlântico Sul, deixando para outras potências navais essa tarefa ( 4ª Frota?).
Essa estratégia vai contra todo o esforço de administrações navais anteriores que queriam o Brasil dotado de uma “Marinha de Águas Azuis”, apta a realizar ações de controle do mar.

Talvez a atual crise forneça tempo para que a Estratégia Nacional de Defesa seja melhor discutida pela sociedade e que alguns pontos sejam revistos.
O Brasil não pode continuar de costas para o mar e ainda, quando começa a voltar-se para ele, pensar em apenas ficar sob as ondas. O Brasil precisa de uma Marinha que seja capaz também de garantir nossa segurança sobre o mar, pois as crises mundiais, econômicas e energéticas, sempre existirão e, conseqüentemente, os conflitos também.

(Blog do Poder Naval)

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