quinta-feira, 10 de maio de 2007

CV tem o dobro da verba da polícia

O poderio financeiro do Comando Vermelho (CV), evidenciado na terça-feira com a apreensão de folhas da contabilidade da quadrilha que revelaram um faturamento anual de mais de R$ 36 milhões, gera ainda mais preocupação se comparado com o orçamento destinado à área de segurança pelo Estado. De acordo com levantamento realizado pelo Jornal do Brasil no orçamento estadual, o valor movimentado anualmente pelo CV é o dobro da verba prevista este ano para a modernização administrativa e operacional da Polícia Militar, rubrica usada para a compra de armas, por exemplo. É, também, mais que o triplo que a Secretaria Nacional de Segurança Pública gastará em armamento letal para os Jogos Pan-Americanos - o investimento será de R$ 11,8 milhões.

Defensor da tese de que a quadrilha estava em apuros financeiros, por conta de dívidas acumuladas com fornecedores, Ronaldo Leão, especialista em segurança pública e professor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), surpreendeu-se com a contabilidade do Comando Vermelho encontrada por policiais na Vila Cruzeiro, na Penha.

- Não pensei que eles estivessem tão bem financeiramente de novo - disse Leão, depois de analisar dados como o que mostra que a caixinha do Comando Vermelho se mantém com um giro de caixa de mais de R$ 200 mil. - Muita empresa de primeira linha não tem esse fundo de reserva.

A caixinha é uma espécie de fundo de emergência da contabilidade geral do tráfico, capitalizada com o recolhimento de aproximadamente 5% do faturamento de cada boca-de-fumo da quadrilha.

O especialista em crime organizado também se surpreendeu com o preço pago pela quadrilha para adquirir armas e munição, que foram usadas nos ataques em série do dia 28 de dezembro do ano passado. Ao todo, apenas no mês de dezembro, a quadrilha adquiriu 13 mil balas de diversos calibres, a maioria para fuzil 556 e pistolas 9mm, além de cinco granadas por R$ 2.500.

Segundo Leão, o preço de uma granada adquirida ilegalmente girava em torno de R$ 800. As caixas de munições adquiridas também estavam abaixo do preço praticado no mercado negro, de acordo com Ronaldo Leão.

- Hoje, cada tiro da polícia custa o dobro do tiro do traficante. A queda no preço é sinal de que eles arrumaram novos fornecedores - diz o professor. - É uma tristeza ter de admitir o poder financeiro do tráfico. Hoje, eles são uma máquina de fazer dinheiro.

Presidente da CPI que investiga a morte de policiais, o deputado estadual Coronel Jairo (PSC) não reconhece atributos no orçamento do Comando Vermelho. O livro-caixa da quadrilha, porém, será analisado pela comissão de inquérito.

- Podemos encontrar alguma relação entre as finanças e a morte de policiais militares - explica. - O Comando Vermelho não é uma sociedade organizada. Não podemos glamourizar os bandidos, nem dizer que a polícia é corrupta por causa de episódios isolados de suborno.

No caderno de anotações do CV, R$ 40 mil são reservados à liberdade do líder do tráfico no Morro da Fazendinha, uma das favelas do Complexo do Alemão. O bandido, no entanto, continua preso em Bangu III. Outros R$ 3.500 foram gastos no resgate de um bandido também preso. São casos que, para o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj, justificam uma intervenção federal no Estado.

- Em vez da ajuda do Exército, precisamos de furacões semanais, uma força-tarefa permanente da Polícia Federal - ressalta. - A violência é um grande balcão de negócios, que vai do tráfico à milícia, e o Estado já provou não ter capacidade para se monitorar.

JB Online

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