quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Turismo refém do medo

No dia seguinte à morte de italiano atropelado após perseguir um assaltante em Ipanema, oito estrangeiros que visitavam a cidade deram queixa de ataques por ladrões na Zona Sul e no Centro

Rio - Um dia após a morte do italiano Giorgio Morassi, 29 anos, que reagiu a um assalto em Ipanema, pelo menos oito turistas estrangeiros deram queixa ontem da falta de segurança na cidade. Há duas semanas no Rio, o inglês Paul Harrison, 45, foi atacado duas vezes desde o fim de semana: sábado, no Leme, um menor arrancou cordão de ouro do seu pescoço, e segunda-feira um homem roubou sua câmera fotográfica. Na Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat), ele disse estar assustado com a violência carioca e, mesmo encantado com a beleza do Rio, vai embora sem vontade de voltar.

“Fui muito alertado sobre a violência, mas pensei que fosse exagero. É incrível, porque essa selvageria não combina com uma cidade tão bonita. É a primeira vez que venho ao Rio e estou com medo até de sair do hotel, porque penso que serei assaltado de novo. Vou embora sexta-feira e acho que não terei coragem de retornar”, desabafou Paul, técnico da seleção paraolímpica de futebol da Inglaterra.

De férias no Rio há quatro dias, a irlandesa Ian Alan Stuart Mcglashan, 25 anos, e o escocês Craig John Mc-Glashan, 24, foram atacados ontem. Por volta das 7h, passeavam na areia da Praia de Copacabana e tiveram R$ 65 e 10 soles peruanos levados.

Os bandidos, um menor de 17 anos e Washington Luis de Souza, 33 — que tem prótese na perna direita e quatro passagens por roubo e furto —, não estavam armados, foram perseguidos por policiais da 19º BPM (Leblon) e alcançados na Rua República do Peru. A dupla mora no Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.

“Quando compramos as passagens, fomos avisados pelos agentes de viagem que isso era comum. Mas, como estávamos diante de uma paisagem tão linda, achamos que era um exagero. Agora vejo que pensamos errado”, lamentou Craig.

Às 11h, os ingleses Josian Pradhan, 34 anos, e Richard Dean, 40, foram cercados por dois homens armados com facas na Rua do Ouvidor, Centro, que roubaram um celular, uma câmera fotográfica e R$ 900. Na Lapa, um alemão, que não quis se identificar, foi abordado por sete menores e agredido. Sua filmadora foi levada. Mais duas vítimas chegaram à Deat até o fim da tarde, mas policiais de plantão não deram informações sobre os assaltos.

SUSPEITO DE CRIME JÁ ESTÁ IDENTIFICADO

Titular da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat), o delegado Fernando Veloso disse ontem já ter identificado o suspeito do assalto que terminou com a morte do turista. Com passagem por assalto, ele seria morador do Morro do Cantagalo, em Ipanema. Segundo Veloso, tanto a Deat quando a 14ª DP (Leblon) receberam informações que apontam para o mesmo nome. O delegado aguarda resultado da perícia feita na bicicleta usada pelo bandido, de onde foram colhidas impressões digitais. Depois, pretende pedir a prisão do acusado.

“Acredito que a bicicleta tenha sido roubada. Seria importante o dono nos procurar para ajudar no reconhecimento. Estamos examinando imagens de câmeras de prédios, mas se alguém lembrar ter visto alguém com as mesmas características e passando no local por volta das 15h, deve nos procurar”, orientou o delegado.

Policiais vaiados em protesto

Com faixas e velas, cerca de 100 pessoas protestaram ontem à noite no ponto da Av. Vieira Souto onde Giorgio morreu. Um monte de areia foi coberto com bandeiras do Brasil e da Itália, simulando o corpo do turista. Quando PMs tentaram liberar o trânsito, foram vaiados pelos manifestantes e houve princípio de tumulto.

Graziano e Suad Morassi, pais de Giorgio, passaram o dia sob cuidados médicos no hotel onde estão hospedados, em Ipanema. Abalados, receberam a visita de dois padres, além de amigos que iriam ao casamento do outro filho, Vitor. Sábado, ele se casaria com a brasileira Maria Vilma Chaib em Carmo de Minas (MG). A cerimônia foi cancelada.

corpo de Giorgio está no IML. A família não sabe quando será o traslado para a Itália.

“Eles vieram felizes para o casamento e estão voltando arrasados, com um enterro para fazer”, comentou Ibraim Chaib, pai de Maria Vilma, que veio para o Rio ao saber da tragédia. O padre Ramon Nascimento, da Igreja Nossa Senhora da Paz, tentou confortar a família. “Eles choram o tempo todo e dizem estar com medo de tudo, até de sair na rua”.

Ao prestar solidariedade à família de Giorgio Morassi, o governador Sérgio Cabral admitiu ontem não ser “fácil lutar contra o crime”. Ele afirmou que o policiamento nas regiões turísticas foi intensificado e o número de visitantes atacados caiu nos últimos meses: “Estamos na expectativa da chegada de 2 mil PMs para a capital”.

TRAGÉDIA GANHA PRIMEIRAS PÁGINAS DOS JORNAIS

A morte de Giorgio Morasi levou a violência do Rio à primeira página dos principais jornais italianos. O mais importante deles, o ‘Corriere della Sera’ abre seu site na Internet com a notícia do jovem que acabou atropelado por um ônibus quando perseguia assaltante que roubara o cordão de seu pai minutos antes em Ipanema.

Ao noticiar que os pais de Giorgio passaram o dia em choque, o ‘La Repubblica’ afirma que o Rio é uma das mais violentas cidades de todo o mundo. Para a publicação, a morte do turista foge ao normal, já que “os episódios mais sangrentos ficam confinados ao subúrbio, e não acontecem nas famosas praias”.

(O Dia Online)


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