terça-feira, 15 de abril de 2014

Polícia abre inquérito para investigar lideranças de prédio ocupado no Rio

A ocupação do prédio da Oi, no Engenho Novo, Subúrbio do Rio, foi tratada pelo prefeito Eduardo Paes como "invasão profissional", enquanto o governador Luiz Fernando Pezão chegou a afirmar que o tráfico de drogas se aproveitava da "balbúrdia" no local, reintegrado na última sexta (11). Agora, a ocupação virou caso de polícia. Neste domingo (13), a Polícia Civil informou, em nota, que instaurou inquérito para investigar a ocupação do terreno para "identificar as lideranças" do movimento. De acordo com o documento, representantes da empresa dona do terreno já foram ouvidos.
Os moradores, por sua vez, negam e dizem que não têm onde viver nem para aonde ir. Também neste domingo, cinco ex-ocupantes se reuniram com o secretário municipal de Assistência Social Adilson Pires e o secretário municipal de Habitação Pierre Batista. A reunião começou por volta das 10h40, após uma vigília com cerca de 300 ex-moradores em frente a sede da prefeitura, mas não foi nada decisiva. Vice-prefeito, Pires disse que o cadastramento das pessoas seria feito pela Guarda Municipal em São Cristóvão e que as pessoas teriam que se deslocar até lá — o que não foi aceito pelos ex-moradores.
"As pessoas que estão aqui querem que eu dê uma solução imediata, mas para amanhã eu não tenho casa para entregar. Então, é preciso fazer o cadastramento para ver o que vai ser feito", afirmou. A proposta, no entanto, desagradou moradores.
'Ninguém tira a gente daqui', diz líder
Um dos cinco líderes que foram recebidos por representantes do governo municipal declarou, no entanto, que os manifestantes não sairão da frente da Prefeitura. Ele informou que desejam que o cadastramento seja feito lá.

"Não estou entendendo porque não podem fazer o cadastramento aqui. Se chegar assistente social aqui, sou o primeiro a ajudar o pessoal a fazer fila e a ter calma para fazer o cadastramento. Ninguém vai tirar a gente daqui. E se tiver que usar a força, a gente vai usar. Pode chamar a polícia, pode chamar o que for, eu quero fazer o cadastramento aqui. Querem que a gente saia daqui por quê? Qual a intenção deles? Nós não vamos sair na força, nós vamos resistir", declarou um dos líderes, que diz se chamar Edi.
Agentes da Guarda Municipal da Tijuca, na Zona Norte, foram deslocados para a prefeitura para reforçar a segurança no local. De acordo com os manifestantes, cerca de 600 pessoas dormiram em frente à prefeitura após a reintegração de posse. Eles afirmaram que ficariam no local até que fossem recebidos por alguma autoridade municipal ou estadual e reinvindicam uma opção de moradia.
"Fomos tratados como se não fôssemos nada, a polícia retirou a gente sem nenhum cuidado. Vamos ficar aqui até sermos ouvidos por alguém, não temos onde morar. É um absurdo a situação que a gente está passando aqui. Tem criança e idoso deitado em sacos plásticos", declarou outra líder do movimento, Perla Soares, de 32 anos.
Outro participante do protesto é Carlos Alessandro, de 34 anos, que acampa no local com o filho de dois meses. "Fomos arrancados da nossa moradia da maneira menos adequada. Os policiais falaram para nós 'ou sai, ou sai'. Só deu tempo de pegar um ventilador e algumas sacolas. Eu tive que sair com a roupa do corpo. Meu filho tem dois meses, quem me ajudou a tirar ele com segurança foi a população", contou ele.
O prefeito Eduardo Paes disse no sábado (12) que três equipes de assistentes sociais da prefeitura estão cuidando do cadastramento das famílias. Segundo ele, 177 já foram cadastradas e a partir de agora será feita uma análise para que possam ser incluídas em projetos da prefeitura.
Reintegração
A Polícia Militar deu início à reintegração de posse do terreno por volta das 4h45 da sexta-feira. No local, ocupantes ergueram casas improvisadas durante 13 dias de ocupação. A ação da polícia começou pacífica. Moradores se reuniram atrás de um cordão de isolamento e saíram sem reagir.​

No entanto, a situação ficou tensa depois que alguns moradores começaram a atear fogo dentro do prédio, às 6h45. Em seguida, um confronto entre policiais militares e ocupantes provocou uma grande correria. A ação da polícia cumpre decisão judicial do dia 4, que determinou a saída das pessoas que ocupam o terreno da Oi.
No confronto com a PM, pelo menos 18 pessoas ficaram feridas, entre elas, 9 policiais militares e três crianças. De acordo com a polícia, 27 pessoas foram detidas —sendo 21 suspeitos de participar do saque ao supermercado. Destes, quatro foram presos. Às 13h27, entretanto, a maioria havia sido liberada, já que não houve flagrante.
Depois da reintegração, houve registro de depredações. Não se sabe se quem promoveu a depredação fazia ou não parte do grupo que ocupava o terreno. Quinze ônibus foram atingidos (quatro deles, queimados), outros três veículos foram incendiados (entre eles um carro da polícia) e pelo menos três agências bancárias foram depredadas. Um supermercado foi invadido e saqueado, e um veículo de uma emissora de televisão também foi atacado.
Barracos derrubados
Aproximadamente 1.650 policiais do 3º BPM (Méier), do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque (BPChq) foram mobilizados para a retirada dos ocupantes do imóvel. Os policiais anunciaram, por meio de um megafone, que os habitantes seriam levados em ônibus e caminhões para abrigos da prefeitura.

Segundo estimativa de moradores, até a noite de quinta-feira (10) havia cerca de 5 mil pessoas no local. Os moradores fizeram ligações clandestinas de energia elétrica e pegaram água das cisternas.
Pessoas que estavam no prédio alegaram que não têm condições de pagar aluguel. Por isso, teriam deixado comunidades como a do Jacarezinho, Rato Molhado e pontos da Baixada Fluminense para ocupar a área. (G1/Redação)

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