terça-feira, 16 de setembro de 2014

PMs cobravam propina até para entregas de eletrodomésticos em Bangu

Em Bangu, até para entregar uma geladeira na casa de um cliente, a empresa transportadora tinha que pagar propina ao batalhão da PM da área. A conclusão é de promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, que denunciou seis oficiais — incluindo o antigo comandante, Alexandre Fontenelle Ribeiro de Oliveira, atualmente lotado no Comando de Operações Especiais (COE) — e 18 praças do 14º BPM (Bangu) por usarem a estrutura do batalhão para abrigar uma quadrilha que exigia propinas de donos de empresas de ônibus, motoristas de vans, mototaxistas e comerciantes. O depoimento de um empregado de uma dessas empresas, obtido pelo EXTRA, revela que a firma especializada em entregas pagava R$ 200 por semana à quadrilha “para fins de segurança”.

No depoimento, o empregado afirma que trabalha numa empresa que presta serviço para grandes redes de varejo na Zona Oeste. Ele afirma que “efetuava a entrega ao policial A. Silva toda sexta-feira”. Em seguida, ele reconhece o policial como o sargento Alexandre da Silva, preso na primeira fase da investigação da quadrilha, em 2013. No relato, ele ainda acrescenta que “em algumas ocasiões, o policial estava em viaturas policiais e em outras ele estava sem farda e em carro particular”.

— Os PMs faziam do batalhão um meio de arrecadar propina. Colhemos depoimentos de funcionários de empresas que relatam que, para fazer uma simples entrega de um eletrodoméstico a um cliente em Bangu, tinham que pagar o “arrego” a policiais — contou o promotor Cláudio Calo Sousa.

As vítimas do esquema relataram, em depoimento, que sofriam ameaças da parte dos PMs para que os pagamentos de propina fossem feitos. Num dos depoimentos, um funcionário de uma empresa que pagava propina afirma que “teme sofrer represálias por parte dos policiais militares envolvidos e não se sente confortável em pôr sua assinatura sobre as fotografias dos policiais”. Ao todo, foram ouvidas 33 pessoas que admitiram pagamentos aos PMs.

Até agora, 23 dos denunciados foram presos. Ainda estão foragidos o major Edson Alexandre Pinto de Góes e o mototaxista José Ricardo de Jesus Oliveira, que recolhia a propina para a PM. Na manhã desta segunda-feira, Fontenelle foi encontrado por agentes da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança em seu apartamento, no Leme. Em seu bolso, os agentes encontraram um bilhete com o que os promotores chamaram de “contabilidade da quadrilha”: ao todo, R$ 27 mil são divididos entre integrantes. Ao lado do número ‘‘10.000’’, está a palavra ‘‘eu’’. Por isso, promotores do Gaeco acreditam que o oficial continuou a receber propinas mesmo após ter saído do batalhão.

Todos os denunciados vão responder por formação de quadrilha armada. Já cada propina paga será investigada pela Auditoria de Justiça Militar. Segundo a denúncia, os valores variavam entre R$ 10 — cobrados dos camelôs no calçadão de Bangu — até R$ 2 mil no caso de cooperativas de transporte, que pagavam para que os PMs fizessem vista grossa para irregularidades.


Entre os oficiais presos, o capitão Walter Colchone Netto já respondia na Justiça por fazer parte da máfia dos caça-níqueis. No ano passado, ele foi preso acusado de fazer parte do esquema de segurança do contraventor Fernando Iggnácio. Solto em maio deste ano, ele foi transferido justamente para o COE, comandando por Fontenelle. Segundo o MP, Colchone era o “homem de confiança” do coronel, já que “no momento em que o capitão foi posto em liberdade provisória, foi ‘puxado’ pelo coronel para um dos setores estratégicos da PM”. (Extra/Redação)


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