segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Cariocas dão adeus à sede do América

Torcedor do América, Lamartine Babo reservou para o seu time alguns dos versos mais lembrados entre os hinos que compôs para os grandes clubes do Rio. “A cor do pavilhão é a cor do nosso coração”, diz a música. De um tempo para cá, porém, a tinta vermelha descascando nas paredes rachadas da tradicional sede, na Tijuca, revela uma situação antiga de abandono. Interditada desde junho pelo Corpo de Bombeiros, a sede centenária dividirá espaço com um shopping a partir do ano que vem. 

O movimento repetido de equipamentos de ginástica é só o que ainda parece ter vida na Rua Campos Sales 188, que abriga a sede desde 1911. Com as portas cobertas por tapumes, é permitido apenas o acesso dos clientes de uma academia privada que funciona ao lado da portaria. No entanto, não é preciso estar lá dentro para sentir a situação. Rodeada por pichações, a entrada virou muro de classificados populares. “Vendo rádio portátil e porta de madeira com fechadura”, diz um deles.

Logo na esquina, o vermelho que forra as mesas de um bar tradicionalmente frequentado por torcedores do clube guarda a nostalgia de uma época em que batia forte o coração americano, como no último Campeonato Carioca conquistado pelo clube, em 1960.

“Já estou com tanta saudade que aluguei uma casa em Paquetá para ocupar meu tempo agora nos fins de semana. O clube não tinha estrutura há muito tempo, mas não faltava amizade”, disse Almir dos Santos, 63 anos. Frequentador desde a infância e conselheiro do clube, ele sugere o motivo da decadência: “Falta de união e famílias que estão há anos no comando.”

Moradora de um prédio localizado ao lado da sede, a aposentada Isabel Thomé, de 64 anos, diz que a interdição foi o fim de uma dor de cabeça. “É uma pena perder o patrimônio. Mas há muito tempo não havia mais aquele charme ali”, disse. “Todo fim de semana era música no último volume até a madrugada, além da fumaça de churrasco entrando em casa. Espero que passe a ser mais organizado.”

Segundo Neil Chaves, presidente do Conselho Deliberativo do América, a medida radical servirá para dar fôlego ao clube. “O objetivo é uma nova sede, a quitação das dívidas e que o América tenha um percentual de lucro do novo empreendimento para que possa se auto-sustentar”, disse.

O presidente informou ainda que será feito um arrendamento do espaço e a nova sede dividirá espaço com um centro comercial. A negociação está em fase de avaliação dos melhores projetos e a decisão acontecerá até o fim de deste ano. (O Dia/Redação)

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