quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Professor de História da Faetec morto em assalto aconselhava amigos a não reagir a roubo

Dois de seus amigos mais próximos em Nova Iguaçu, onde foi morar para dar aulas, o professor Miguel Ângelo Coutinho de Lemos, de 44 anos, costumava comentar sobre o receio de assaltos, sempre na tentativa de alertá-los. Na noite desta terça-feira, a vítima foi o próprio mestre, mortos a tiros no bairro Califórnia.

— Ele sempre falava para a gente: “Nunca reajam a um assalto. Moto, a gente trabalha e compra outra. A vida, não”. O Miguel era como um pai para a gente — contou um jovem de 21 anos, que prefere não se identificar.

Segundo os amigos, a moto de Miguel Ângelo, uma Kawasaki Ninja, pode ter chamado a atenção dos bandidos, que o abordaram na Rua Carmem de Freitas Salgado, em frente ao número 183.

— Deram ordem para ele parar, mas ele não parou. O que mais me revolta é a forma como ele foi morto. Atingiram ele pelas costas, e ainda deram tiros de misericórdia na cabeça, com ele caído no chão — contou um outro amigo, de 19 anos, que era vizinho do professor.

O professor e os dois amigos, que preferem manter o anonimato, estavam sempre juntos. Quando foi morto, Miguel Ângelo seguia para a casa de um deles, a cerca de 300 metros do local onde foi assassinado.

— Ele ainda me ligou e disse que chegaria em 10 minutos. Pouco depois, vieram bater na minha porta gritando que meu tio tinha sido alvejado. Era assim que eu chamava ele, de tio — comentou.

Foram os dois amigos que fizeram contato com a família do professor, que é de Juiz de Fora. Segundo eles, um irmão da vítima está a caminho do Rio para liberar o corpo e resolver os trâmites necessários para o enterro.

— Ele dizia que queria ser cremado, e que as cinzas fossem jogadas num rio em Parati. Ele adorava aquela cidade — contou um dos colegas.

Segundo testemunhas, antes de balearem o professor, os bandidos assaltaram uma mulher na mesma esquina onde Miguel Ângelo foi morto. Os suspeitos, de acordo com moradores, eram quatro homens que estavam num Golf preto. Todos armados com pistolas.

— Ele passou no momento em que os bandidos renderam a mulher. Lembro que ela saiu do carro gritando: “tem criança, tem criança”. Foi quando deram ordem para o professor parar, só que ele entrou na Rua Nossa Senhora de Fátima. Foi quando começaram os tiros — contou uma testemunha, que também não quis se identificar.

Segundo o morador, os assaltos são constantes na região:

— De três em três dias alguém é atacado aqui na rua. Já vi umas cinco pessoas serem mortas na esquina onde professor foi morto.

Miguel Ângelo Coutinho de Lemos veio para o Rio de Janeiro há 10 anos, para ser diretor de um colégio particular em Jacarepaguá. Há cinco anos, dava aulas de história na escola João Luiz Nascimento, uma unidade da Faetec em Nova Iguaçu. Ele não deixa filhos. Agentes da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense fazem uma varredura na região em busca de câmeras que possam ter registrado o crime. (Extra/Redação)



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