quarta-feira, 21 de março de 2007

Souza Aguiar: decifrada a ‘a esfinge’ do caos

Emergência onde só cabem 30 recebe num só dia 110 pacientes, sendo apenas 20 caos realmente urgentes

Uma das unidades de referência durante o Pan (13 a 29 de julho), a emergência do Hospital Souza Aguiar enfrenta longas filas, a poucos meses do inícios dos jogos. Só ontem havia 110 pacientes, embora a capacidade se limite a 30. Ao tomar posse, anteontem, o ministro José Gomes Temporão disse que 80% não precisariam estar lá. Acertou em cheio: apenas 20 dos casos foram considerados realmente emergenciais. Sem lugar para todos, bombeiros deixavam os doentes em macas, pelos corredores. A superlotação – um dos ingredientes da “esfinge da saúde” no Rio, que Temporão prometeu decifrar – é causada, segundo médicos, pela deficiência do atendimento em outras unidades.
Em 2006, a emergência do Souza Aguiar recebeu mais de 1.600 pacientes de outros hospitais, grande parte deles (537) vinda do hospital Penal. No fim da manhã de ontem, o tempo de espera na emergência era de mais de três horas e os funcionários distribuíram senhas. Muitos pacientes que aguardavam atendimento já tinham procura

Pacientes crônicos só podem se tratar de madrugada

Uma paciente recebeu os primeiros socorros em cima de uma mesa. A atendente de bar Ana Paula da luz, de 28 anos, passou mal na Praça da Bandeira. Socorrida por um taxista, desmaiou quando descia do taxi. Horas depois contrariando orientação médica, a mulher deixou o hospital sem diagnóstico definitivo.
Os problemas no Souza Aguiar provocam efeito dominó. O setor de hemodiálise, que deveria ser exclusivo da emergência, permanece lotado de pacientes crônicos. Assim, muitos doentes fazem o tratamento de madrugada. O excesso de uso prejudica o funcionamento dos equipamentos, que acabam quebrando.
Temos uma grávida de oito meses, detenta do Hospital Penal, que faz hemodiálise semanalmente no Souza Aguiar. Essa paciente não deveria vir pra cá e vai acabar tendo filho aqui. Por que não é tratada no Hospital Penal? Assim como ela, presos muitas vezes têm preferência no atendimento do paciente comum porque vêm escoltados e oferecem risco às pessoas - disse um funcionário, que não quis se identificar.
Era justamente esta a reclamação do pedreiro Francisco Pereira de Souza, de 31 anos. Enquanto aguardava atendimento no setor de oftalmologia na sexta-feira, ele viu três homens algemados entrarem na sua frente:
- estou aqui desde cedo esperando ser atendido. Sou trabalhador honesto e os bandidos chegam algemados e passam na frente de todo mundo.
No setor de oftalmologia, o número de atendimentos chega a 300 por dia e há apenas dois médicos por turno. Além disso, muitos tuberculosos internados oferecem risco aos demais pacientes.
O levantamento do Hospital Souza Aguiar mostra ainda que, no ano passado, foram enviados 516 pacientes de unidades municipais. Na lista há hospitais de grande porte como o Salgado Filho, no Méier, que transferiu 61 doentes. Outros 50 foram levados do Lourenço Jorge (Barra) e outros 50 do Paulino Werneck (Ilha).
- Como vamos fazer no Pan? As pessoas reclamam que pacientes são deixados na pia, mas não há outro lugar - desabafou um médico.
Na rede estadual a situação é quase a mesma. Foram 1.022 removidos, a maioria do Hospital Penal. Depois dele, o número mais expressivo é do Hospital Carlos Chagas (Marechal Hermes). Outros 24 eram do Getúlio Vargas (Penha). Da rede federal foram contabilizados 58, sem contar os 1.220 pacientes de todo o estado que chegaram nas ambulâncias do Samu.
- Ele mandam os pacientes para o Souza Aguiar porque sabem que somos referência, mas não temos mais como atender. Se as outras unidades não forem equipadas, vamos deixar de atender - disse outro funcionário.

Além de outros hospitais, pacientes de outras cidades

Apesar de ter encaminhado 252 pacientes para outras unidades, médicos do Souza Aguiar explicam que as remoções são quase sempre de pacientes crônicos que não podem ficar internados.
Outro problema que dificulta o atendimento é a quantidade de pessoas que chega de outras cidades. Em 2006, dos 13.961 pacientes removidos de todo o estado para o Souza Aguiar, 1.315 eram de outros municípios, sendo 291 da Baixada e 195 de Niterói. O número de remoções da Zona Oeste chegou a 308.
Para o superintendente de Saúde do estado, Mário Bueno, a superlotação das emergências é um fenômeno mundial. Segundo ele, o número de atendimentos e internações em hospitais estaduais aumentou até 10% desde o início do ano.

Doze toneladas de lixo hospitalar sem destino

MP proíbe despejo de resíduos da rede privada em Gramacho a partir de sábado

A partir de sábado, a Comlurb não vai mais permitir que as unidades de saúde da rede privada descarreguem diariamente 12 toneladas de lixo hospitalar no Aterro Sanitário de Gramacho. A decisão é um cumprimento a notificação do Ministério Público estadual. O Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do Município do Rio de Janeiro (Sindhrio), afirma que não tem outro local para despejar o lixo e anuncia que tentará adotar medidas judiciais para conseguir reverter a determinação da promotora Ana Paula Petra, da 4º Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente.
Hoje o Sindhrio promove um seminário para discutir o problema. O encontro "Gestão de resíduos sólidos dos estabelecimentos de saúde do município do Rio de Janeiro: atualidades e perspectivas" será no Auditório da Fecomércio, no Flamengo.
O Presidente do Sindhrio, Adriano Londres, disse que a situação é grave. A preocupação é com as pequenas clínicas e casas de saúde que, sem opção de local para envio do lixo, podem descartá-lo em qualquer lugar, causando um problema ambiental ainda mais grave.
- Não temos solução a curto prazo e não violamos qualquer norma para que a promotoria tomasse a decisão - disse Adriano Londres.

Fonte: O Globo Online

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