segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Usuários fazem manobras perigosas em pequena área para não pagar passagem no Transoeste

Pouco mais de dois anos após a sua inauguração, o BRT Transoeste, que transporta cerca de 170 mil passageiros por dia, entre a Barra da Tijuca e bairros como Santa Cruz e Campo Grande, está se transformando em palco de uma transgressão perigosa. Para não pagarem pela passagem, em vez de passarem pela roleta que fica dentro das estações, usuários estão se espremendo do lado de fora, numa pequena plataforma de acesso aos ônibus, de não mais do que meio metro de largura, para entrar nos coletivos. Na última quinta-feira, repórteres do GLOBO flagraram, entre 10h e 14h, pelo menos 30 casos do novo tipo de calote em sete pontos. O consórcio que administra o serviço admite o problema, mas diz que não há como contabilizar precisamente o prejuízo causado pela prática. Estimativas dão conta que a quantidade de passageiros que cometem a irregularidade pode variar entre 5% e 10% do total.


As situações mais críticas detectadas foram nas estações Cesarão 1 e 3, que beiram a comunidade homônima, localizada em Santa Cruz. Lá, algumas das portas automáticas, que deveriam ficar fechadas até a chegada dos veículos, foram quebradas e estavam abertas o tempo todo. A consequência foi que muitos usuários nem precisavam se equilibrar do lado de fora para esperar os ônibus: entravam direto pelo lado de fora sem pagar. Na Cesarão 3, a porta, além de quebrada, está cheia de pichações e até com uma marca de tiro num dos vidros. A prática do calote era feita por jovens, adultos e mesmo crianças. Um adolescente, aluno de uma escola municipal, disse por que às vezes dá o calote, apesar de ter gratuidade para ir ao colégio:


— Para ter a gratuidade, a gente precisa passar o cartão na escola para comprovar que foi à aula. Então, quando a gente falta, não tem passagem, mesmo que esteja com a camisa do colégio.




Além das estações Cesarão 1 e 3, o GLOBO também flagrou o calote na Cesarão 2; Icurana; Julia Miguel; Mato Alto e Santa Eugênia. Na última, em frente à estação de trem de Paciência, primeiro uma mulher e depois dois jovens correram pelo meio da via, fora da faixa de pedestres, assim que o ônibus passou. Tudo para poderem entrar pela pequena plataforma do lado de fora, mesmo com o risco de atropelamento.


Nos locais onde foram detectadas as irregularidades, havia funcionários dentro das estações, mas nenhum foi visto repreendendo a prática. Nas paradas que beiram a comunidade do Cesarão, há relatos de que eles teriam medo de represálias de bandidos caso abordem os infratores. O Consórcio BRT informou que mantém uma equipe de segurança, composta por policiais militares de folga, que trabalham através de um convênio com a Secretaria de Segurança Pública. E acrescentou que “sempre que um caso dessa natureza é presenciado, os PMs têm como procedimento conduzir o infrator à delegacia”.


Sem citar a quantidade de registros, o Consórcio BRT ressaltou que o calote constitui-se “em crime previsto no artigo 176 do Código Penal (tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento), com pena de 15 dias a dois meses de detenção, que pode ser convertida em multa”. Além de páginas no Facebook e no Twitter, as empresas de ônibus também disponibilizam o telefone 0800 886-1000 para denúncias.

A prática de entrar nos ônibus sem pagar, o popular calote, é antiga e costumava ser mais comum nos ônibus regulares, quando os passageiros entravam pela parte de trás e saíam assim que a porta se abria para a entrada de outras pessoas. O principal agravante no BRT é que, como a maioria das pessoas se equilibra na pequena plataforma, há risco de quedas. Para o engenheiro civil, urbanista e conselheiro do Crea-RJ Antônio Eulálio, mais do que se pensar numa solução arquitetônica, o caminho é a educação:


— É preciso conscientizar as pessoas dos riscos. E para isso, além de campanhas, o poder público tem que aplicar punições mesmo, multas para que os usuários sintam no bolso. Essa prática também prejudica o embarque das pessoas que estão agindo da forma correta, entrando na estação pagando a passagem.


Outro problema causado pelo calote que, segundo o consórcio, também é comum em outros países, como Chile e Colômbia, é a dificuldade de manter o planejamento correto de veículos de acordo com a demanda, pois os passageiros que não pagam não são contabilizados oficialmente. Sobre o vandalismo nas estações do Cesarão, as empresas de ônibus informaram que “o setor de manutenção realiza cerca de mil ações de conserto nos mecanismos de aberturas de portas por mês e a troca de 90 portas no mesmo período. O efetivo de manutenção foi aumentado, mas ainda lidamos com problemas de vandalismo de passageiros que forçam a abertura das portas e quebram os mecanismos. Nas estações de maior movimento, foram colocados operadores de embarque nas portas dos embarque expressos”, conclui a nota. (G1/Redação)




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