terça-feira, 26 de agosto de 2014

Outra aluna relata ataque no entorno da UFRJ: 'Em plena luz do dia', conta

Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) relatam casos de assédio sexual próximo ao campus da Praia Vermelha, na Zona Sul do Rio. Após uma estudante de Comunicação contar ter sido assediada na última terça-feira (19), em um ponto de ônibus em frente à faculdade, outra universitária, do curso de Relações Internacionais, contou ao G1 que sofreu um ataque semelhante em fevereiro de 2014, no mesmo local.
"Fui atacada em plena luz do dia, e ninguém fez nada, ninguém me ajudou", diz Gabriela Sarmet, de 19 anos.
A estudante contou que, às 14h do dia 21 de fevereiro, estava no ponto de ônibus da Rua Venceslau Bráz, quando percebeu que um homem a olhava fixamente. Gabriela disse que desconfiou da atitude, mas, inicialmente, não fez nada. Só se deu conta que o homem tinha a intenção de segui-la quando ela parou um ônibus para pedir informação sobre o trajeto do coletivo. Nesse momento, segundo ela, o suspeito ameaçou entrar no ônibus também. No entanto, ela desistiu de embarcar porque o motorista informou que não passaria pelo local para onde ela pretendia ir. O homem, então, desistiu também de pegar o ônibus e, em seguida, a assediou.
"Assim que voltei para o ponto, eu vi que ele botou a mão dentro das calças e começou a mexer enquanto olhava para mim. Eu comentei que achava isso uma nojeira, mas ele não se importou. E ninguém fez nada, ninguém falou nada, nem tentaram fazer com que ele parasse", conta, acrescentando que o ponto de ônibus estava "lotado".
Depois disso, o suspeito ainda tentou agarrá-la. "Quando ele tentou me encaixar entre as pernas dele, eu comecei a gritar, a xingar ele, perguntar se ele estava louco. Ele disse que tinha me confundido com outra pessoa", disse. Diante da reação da jovem, o homem deixou o ponto de ônibus, mas voltou pouco tempo depois.

"Ele voltou a fazer a mesma coisa e, dessa vez, eu o empurrei. Ele chegou a dar sinais que iria me agredir, mas recuou. Naquele momento, eu vi um guarda municipal dentro do ônibus, tentei chamar a atenção dele, gritei muito, mas ele nem se importou com o que acontecia. Pouco depois eu peguei meu ônibus e comecei a chorar. Sobra machismo e falta solidariedade ali", lamentou a estudante.

Registro na delegacia
Um dia depois do fato, a jovem foi à 10ª DP, em Botafogo. Segundo a Polícia Civil, o caso foi registrado como importunação ofensiva ao pudor. Uma audiência foi marcada para junho passado, mas não chegou a ser realizada. Por falta de testemunhas, o caso foi arquivado pela juíza Lídia Maria Sodré de Moraes, do Juizado Especial Criminal de Botafogo. A estudante afirma que levou uma outra amiga à delegacia. 

"Não me foi orientado hora nenhuma que a testemunha era essencial para a continuidade ao caso. Talvez eles fossem arquivar mesmo com essa testemunha, infelizmente", disse.

O Tribunal de Justiça do Rio afirma que a juíza apenas acatou o pedido do MP: "Ante a ausência de elementos mínimos que possibilitem a apuração da autoria requer o MP o arquivamento do presente", diz o texto da remessa enviada pelo Ministério Público no dia 15 de maio. O arquivamento definitivo foi decidido no dia 30 de junho.
A estudante conta que, mesmo com o arquivamento, está ajudando outras cinco alunas da UFRJ que sofreram a mesma violência, no mesmo ponto de ônibus. 

"Isso aconteceu quando fiz um post no Facebook e houve uma enorme repercussão. Muitas meninas que haviam passado pela mesma coisa vieram falar comigo. Me senti como a voz de muitas que não puderam ou têm medo de falar. Isso me deu forças e sempre respondo a qualquer 'gracinha' que digam para mim na rua. As mulheres têm que reagir", defendeu.

Policiamento e políticas públicas
A aluna de Relações Internacionais afirma que o patrulhamento da polícia é ineficiente na região da UFRJ e pede mais segurança para que mulheres não continuem sendo alvos de violência em espaços públicos. 

"Quero, como cidadã e como mulher, que haja segurança pública com um tratamento digno e respeitoso com as mulheres, por parte dos policiais. Quero educação nas escolas para que as pessoas aprendam a respeitar umas às outras desde cedo, mais iluminação nas ruas para que os agressores não ajam tão livremente", exemplificou Gabriela.

Ela citou uma ação da Organização Não-Governamental Action Aid!, que criou uma campanha chamado Cidades Seguras, com propostas de poláticas públicas para as mulheres em espaços urbanos. "Milhares de mulheres passam por isso todos os dias, e muitas delas não tem voz. Essa causa merece ser divulgada", finalizou Gabriela. (Catraca/Redação)


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